Eles ainda são apenas 6% da frota nacional, mas isso já representa quase 200 mil veículos com motores elétricos no Brasil. Fique atento, a qualquer momento um deles pode entrar na sua oficina. Está preparado?
Não tem volta. Os veículos eletrificados já fazem parte do nosso trânsito e estão circulando pelas ruas e avenidas, parados nos pontos de recarga em shoppings, universidades e centros empresariais, estacionados em garagens de prédios, casas e estabelecimentos comerciais e, como não poderia deixar de ser, nas empresas de reparação automotiva.
Até o final de 2023, segundos registros da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), o número de veículos com algum tipo de motor elétrico se aproximava das 200 mil unidades, sendo que as vendas de carros elétricos e híbridos continuam quebrando recordes mês após mês no Brasil.
Ainda de acordo com o levantamento da ABVE, no acumulado do ano de 2023, foram comercializados 93.927 carros elétricos, 91% a mais em relação ao consolidado de 2022, quando 49.245 veículos do tipo foram adquiridos.
Esse crescimento da frota ainda carece da expansão de uma rede de oficinas equipadas e da disseminação da informação sobre as rotinas e cuidados com a manutenção de carros elétricos, o que implica na qualificação de profissionais para acompanhar o ritmo do aumento da frota.
Cada vez mais vagas como eletricistas, eletrotécnicos e técnicos em conectividade veicular surgirão nas indústrias do setor e nas empresas especializadas no segmento. Este profissional precisará continuar entendendo da manutenção automotiva convencional, mas deverá incluir entre suas competências noções de física, química, eletrônica e elétrica.
Além do conhecimento teórico e conceitual, é importante que o profissional esteja apto a desmontar e examinar de perto as baterias, motores elétricos e outros sistemas-chave dos veículos híbridos e elétricos, com total domínio do funcionamento, diagnóstico e reparação desses componentes.
Outro foco da aprendizagem deve ser nas técnicas adequadas de manuseio e segurança ao trabalhar com baterias de alta voltagem, bem como sobre os procedimentos corretos para realizar diagnósticos precisos e reparos eficientes.
O Senai já oferece em diversas unidades em todo o Brasil cursos de Manutenção em Veículos Elétricos e Híbridos com conteúdos sobre: características dos veículos elétricos e híbridos; tipos e características dos motores elétricos; tipos e características de baterias; funcionamento da bateria e dos carregadores; processos de manutenção e reparo; equipamentos de proteção individual e coletivos; normas de segurança; interpretação de literatura técnica na manutenção; equipamentos e ferramentas para manutenção e intervenção segura.
Além dos conhecimentos específicos sobre os motores elétricos, é importante investir na capacitação da norma NR-10, que é a Norma Regulamentadora emitida pelo Ministério do Trabalho, para preservar a segurança e a saúde dos trabalhadores que interagem nas instalações e serviços com eletricidade.
Profissionais que tiverem em seus currículos experiências e domínio sobre esses temas e habilidades terão ótimas oportunidades para trabalhar em empresas especializadas neste segmento e até mesmo como multiplicadores no treinamento de mão de obra para atuar na manutenção e identificação de problemas em carros elétricos.
Mas não é apenas o profissional que deve se qualificar. Para que uma oficina realize a manutenção de carros elétricos, elas também devem adequar uma área de seu espaço para esse público.
Hoje, a maioria dos modelos que aparecem para manutenção ainda são os híbridos, que, por sua característica de funcionamento, ainda necessitam de serviços de reparação corretiva e preventiva muito similares aos modelos com motores a combustão, a bateria concentra a maior parte das falhas relacionadas ao sistema híbrido.
Segundo especialistas do setor, os híbridos possuem um pack com células de baterias e pode ocorrer um desequilíbrio entre essas células, com uma ou mais com menos carga que a outra. Isso reduz a duração da bateria, até chegar a um nível de carga em que o veículo deixa de usar a alimentação elétrica de energia para mover as rodas e passa a usar somente o motor a combustão.
Esse problema requer a equalização das células de bateria, que é feita com um equipamento específico para esse procedimento. É um processo caro e demorado que exige a desmontagem do pack de baterias, separação de todas as células e o balanceamento de cada uma no equipamento.
O empresário que deseja atender esse nicho de mercado que só cresce deve investir na adequação da oficina, com mudanças no espaço físico, sinalização e compra de EPIs.
Veículos elétricos, principalmente os chamados Plug-in, que são os híbridos PHEV – Veículo Elétrico Híbrido com bateria recarregável por conexão externa – e os 100% elétrico BEV – Veículo Elétrico a bateria com recarga externa, exigem um ambiente separado e ferramentas específicas para manutenção, pois existem riscos de acidentes graves.
Um box de trabalho para veículos elétricos deve ter:
Área: é necessário delimitar, isolar e sinalizar corretamente o espaço onde o veículo eletrificado estará parado. É importante que haja sinalização da área de trabalho com placas de alerta sobre o trabalho com alta tensão, além de uso de cordão e/ou fita de isolamento do perímetro, com proibição de acesso das demais pessoas, incluindo outros funcionários não habilitados para a realização de serviços com veículos elétricos.
O espaço também deve ter um reforço nos sistemas de prevenção de incêndio, com a instalação de extintores especiais para veículos elétricos, pois tentar apagar o fogo com água pode causar mais danos, pois as baterias de lítio-ion podem reagir violentamente, além de exigirem grandes quantidades de água para resfriarem totalmente.
Para apagar o fogo, o uso de agentes químicos secos ou espuma é o mais apropriado, pois ajudam a resfriar a bateria e cortar o fornecimento de oxigênio.
EPIs adequados: durante o diagnóstico, medições e manuseio do veículo com o circuito energizado (chave geral ligada), é imprescindível o uso de luvas isolantes de classe zero até 1.000 V, além dos óculos de proteção e sapatos isolantes. Se o veículo já estiver desenergizado, os EPIs de alta tensão não são necessários. São exigidos apenas luvas comuns e óculos.
Ferramental: boa parte das ferramentas e equipamentos convencionais da oficina não poderão ser utilizadas na manutenção dos veículos elétricos. Isso significa que será necessária a aquisição de itens específicos, tais como:
- kit básico de ferramentas com isolamento adequado (1.000 V) para manutenção corretiva de veículos elétricos.
- Multímetro profissional (para corrente alternada e contínua).
- Osciloscópio.
- Testador de carga e descarga do módulo de bateria para veículos elétricos.
- Scanners específicos para avaliar o motor elétrico e o controlador eletrônico.
- Megômetro: este é um instrumento de medição de isolamento de circuitos elétricos que gera e aplica uma tensão, que pode variar de 500 até 15 mil V, em um equipamento para realizar a leitura da corrente elétrica.
- Fonte estabilizadora de baterias de veículos elétricos de altae baixa tensão.
- Equipamento para descarregar e carregar packs de baterias de Veículos Elétricos.
- Equalizador de pack de células de baterias de veículos elétricos.
- Elevador específico para suspender o veículo elétrico e plataforma elevatória móvel (foto abaixo) para sustentar e transportar o peso das baterias, que pode superar os 300 kg.
Todo esse investimento pode ultrapassar a cifra dos R$ 200 mil e, assim como todo o investimento nos demais equipamentos de uma oficina, esse não é um custo facilmente repassado aos proprietários dos veículos.
Isso porque o investimento é considerado como uma condição para ser possível atender aos clientes, sejam eles de veículos com motores a combustão, elétricos ou híbridos.