Um carro genuinamente brasileiro, com carroceria e chassis feitos em aço e motor de caminhão. Essa é a descrição do Brasinca GT 4200, mais conhecido pelo nome de Uirapuru, que encantou e encanta apaixonados por veículos e suas histórias.
O GT 4200 Uirapuru foi um automóvel fabricado pela Brasinca, mas apenas 77 exemplares do modelo foram fabricados, dentre eles 3 conversíveis e uma versão perua para uso como viatura de patrulhamento pela polícia rodoviária.
O espanhol radicado no Brasil, Rigoberto Soler Gisbert, já acalentava o sonho de construir um carro da categoria Gran Turismo (GT) desde a época em que trabalhava na fábrica da Vemag, fabricante dos veículos DKW, e depois na Willys-Overland.
Com a mudança para trabalhar na Brasinca, então conhecida fabricante da cabine do caminhão FNM, ele convenceu a direção da empresa e desenvolveu o primeiro carro da Brasinca: o projeto X-4200, que ficou conhecido como Uirapuru.
Soler desenvolveu uma estrutura monobloco em sintonia com componentes mecânicos da linha Chevrolet, que na época era composta de caminhões e utilitários. No lugar da fibra de vidro, já utilizada em diversos outros modelos esportivos, ele desenvolveu uma estrutura monobloco montada num chassi próprio de vigas retangulares ocas, tipo caixa, e uma carroceria moldada manualmente em chapas de aço, no lugar das peças estampadas.
Como não havia um automóvel nacional com potência e torque adequados aos objetivos do carro, Soler resolveu usar o motor de seis cilindros em linha e 4.271 cm³ das picks-ups e caminhões Chevrolet Brasil e da perua Amazona, com 142 cv de potência bruta, mantendo até mesmo a taxa de compressão original, de 7,3:1.
Ele substituiu o carburador único por três SU H4, passando a 155 cv brutos a 4.000 rpm. Para completar o projeto do Uirapuru, ele adotou a suspensão, freios e muitos outros componentes mecânicos da linha GMB, que produzia no Brasil apenas caminhões e pick-ups.
O Brasinca GT 4200 Uirapuru foi apresentado ao público e à imprensa pela primeira vez em 1964, no Salão do Automóvel, em São Paulo (SP), e foi considerado uma grande novidade no Brasil. Além do motor de seis cilindros, com carburação tripla, utilizava o câmbio Clark com três marchas, fazendo-o chegar de 0 até 100 km/h sem a necessidade de trocar de marcha e em apenas 10,4 segundos. Um tempo bem surpreendente para os resultados da época.
Outro feito incrível foi no teste de velocidade máxima, obtido poucas semanas antes do Salão do Automóvel de 1964, no qual o Uirapuru alcançou a marca de 200 km/h nas pistas do Autódromo de Interlagos, também na capital paulista.
Apesar de todo o sucesso do lançamento, o GT 4200 Uirapuru foi um automóvel que não chegou a ser fabricado em série. Pouco mais de um ano após seu lançamento, a Brasinca desinteressou-se do projeto em função dos altos custos gerados pela baixa escala e o carro continuou a ser feito pela STV, empresa de projetos da qual Soler era diretor.
No total, até 1967 foram fabricados 77 exemplares, inclusive três conversíveis, e o célebre protótipo apresentado no Salão do Automóvel de 1966, o Gavião. Este era um modelo experimental para a Polícia Rodoviária que tinha, entre outras surpresinhas, duas metralhadoras embutidas na grade.
A tecnologia usada pelo Uirapuru foi considerada muito avançada e existe hoje uma réplica do GT 4200 em exposição no Museu de Arte Moderna em Nova York (EUA). Os poucos exemplares originais restantes não chegam a quatro dezenas de unidades, com a maioria delas nas mãos de colecionadores, que fazem breves aparições nas exposições e feiras de carros antigos por todo o Brasil.
Vez por outra até aparece um exemplar abandonado, como o modelo da foto abaixo, que com certeza já foi resgatado e restaurado por um colecionador.
